quinta-feira, 5 de julho de 2012

Passe comigo esta noite!

                                                                foto: olhares - Ivanielizarov

Passe comigo esta noite!   

Segunda parte            

O desconhecido

Era madrugada, as poucas luzes que iluminavam as ruas desertas refletiam nas poças d’água formadas no asfalto... a sombra de um homem cambaleante aproximava-se da avenida principal...
Anne observava a cena pela janela do último andar do hotel. Ela poderia simplesmente, puxar a cortina e ignorar o que via, mas um estalo seco ecoou no ar, e a sombra deu lugar a um corpo caindo. Anne apagou seu cigarro na xícara de café, mania feia, se estivesse na casa de sua mãe seria repreendida por isso!
Catou seu casaco da cabeceira da cama e desceu a pé, o primeiro lance de escada, antes de optar pelo elevador. Garota destemida! Poucas coisas a amedrontavam, e elevadores era uma delas.
Estava tudo silencioso. Curiosamente, nem o recepcionista estava em seu posto.

Ela parou em frente ao hotel, olhou para todos os lados, antes de aproximar-se do homem caído na sarjeta. Aparentemente, a cidade toda dormia. Mas Anne sabia que não era bem assim... Seu instinto lhe dizia que estava sendo observada.
Aproximou-se do corpo estendido no chão, pelo estado das roupas, rasgadas e sujas, e dos arranhões espalhados pelo corpo, era possível supor que aquele homem havia apanhado muito, antes de receber o tiro de misericórdia!

Anne agachou-se ao lado do desconhecido e ao mesmo tempo, pensava sobre o que fazer naquele momento, ligar para a polícia seria óbvio, na verdade ela ia fazer isso, quando algo lhe impediu. 

Aquela mão grande e ensangüentada agarrou-lhe o braço, fazendo com que seu celular caísse numa poça de lama. Ele não estava morto!

Assustada, ela levantou-se subitamente, enquanto o homem se debatia no chão, pronunciando frases desconexas... 

Então ele ficou calado! Fixou seu olhar moribundo nos olhos de Anne e falou quase num sussurro: “Angélica... achei você Angélica!”.

Anne não estava entendendo nada! Imaginou que no estado em que aquele homem se encontrava só podia estar delirando, tendo visões com alguma Angélica que definitivamente, não era ela.
Angélica... ele continuou, você precisa voltar!

Ela nada mais ouviu. O silêncio imperou por toda a escuridão, enquanto os olhos daquele desconhecido cerravam as pálpebras definitivamente.



continua... :)



leia a introdução aqui


Por Mary Paes Santana




Delírios noturnos




Minha pele queima, num desejo ilógico
Sem satisfação...
 Entre quatro paredes
Sou apenas um, 
e toco a cama fria
Querendo ir além da minha solidão
E curar esta febre que a paixão me causa
Mas, estou só... 
Possuo o tempo, a noite
e o pensamento...
 Mas, não sou dono de você
E nem por um momento te possuo, além do sonho
E se te vejo entrar... Sorrir pra mim...
E antes que me toque, sei que deliro
E se não me satisfaço, tudo que me sobra,
Ainda é o tempo... E todo o espaço, 
pra chorar
A minha solidão... 
E a falta completa de você.
 
Mary Paes Santana